terça-feira, 25 de junho de 2019

Consciências, ...

                                                    

                                     Consciências, ...


         
       Consciência!
       Não a que se tem; ou não, mas a que se sente ou não, de igual modo.
       Consciência esta de que escrevo e que varia de uns para outros, não a sentindo uns sequer, e pesando noutros pelo mesmo acto.
       Pois eu penso, que será talvez  a característica humana que mais difere os homens, uns dos outros. 
       Senão,... dividimos entre nós a moda, comungamos religiões, ideais e até princípios. Podemos ou não, partilhar os mesmos gostos, alimentares, artísticos, desportivos ou mesmo sexuais. Da mesma forma, podemos até com os outros dividir passado, presente e futuro, e mesmo, o mais intimo e pessoal dos objectivos, projecto ou sonho. E até a outra consciência, a que se tem, podemos em conjunto, do mesmo te-la ou não, tendo-a uns e não outros. Mas esta, a que pesa, cada um tem a sua, indivisível, incomparável, intransmissível e de mil pesos diferentes. 
       Que faz parte do carácter, ou da personalidade, sendo sempre difícil perceber o que pertence e a onde. Será verdade! Mas também a sinceridade, a generosidade, a franqueza e a capacidade de amar, tal como a ambição, o egoísmo e a maldade. E todas elas as podemos ter de igual medida uns, que outros, por mais difícil a empreitada de as medir ou comparar.
       O seu peso, o da consciência que pesa em cada um de nós, é algo tão próprio, tão mesmo de cada um, que nem explicá-lo vale a pena. Pois nascida no tal paralelo de carácter e personalidade, perante o acto cometido ela é tão uno e pessoal, como a quem pesa.
        Na canção, diz Rui Veloso, "-Sei de uma camponesa...". Pois eu, sei de uma enfermeira chamada Esperança, mãe de um miúdo de nove anos e casada à dez com o namorado do tempo de escola, e mulher bonita, de trinta e dois anos. E Esperança é feliz! Faz o que gosta e estudou para fazer, e como especializada em doenças mentais, aceitou recentemente um serviço particular em casa de família de posses, para cuidar de doente com trissomia vinte um. Sendo feliz, vê nas dificuldades eminentes ao desemprego recente do marido, o perigar da sua felicidade, sob o peso das despesas e dividas, inerentes ao apartamento por pagar ao banco, e também ao carro, comprado maior na antecipação ao segundo filho, muito desejado e adiado agora. E mais, também um superável mas chato e dispendioso problema correctivo de dentição, do filho que já têm e que vai ter que abandonar o futebol, orgulho do pai e a onde se diz ter futuro. E ela, deixou o trabalho certo na clínica e aquele aceitou, com melhor horário, melhores condições, e principalmente muito melhor salário. Tão bom, que sobre ele a verdade, por não ter como explicar senão mentindo, pelo receio da atitude do esposo perante ela, não lha disse.
      -Quanto ganha a Esperança aqui na clínica? 
      Perguntara-lhe depois de uma consulta ao filho a actual patroa. A que ela respondeu e a senhora, continuou:
      -Você conhece o meu filho! Trabalha aqui há já vários anos e sempre foi muito atenciosa e carinhosa com ele, e sei, que principalmente é muito profissional. E ele, adora-a! E o que lhe vou propor é humano, mas acima de tudo, por favor veja-o como profissional.
       E ela ouviu! E a senhora, mãe do doente e hoje sua patroa, propôs:
       -Tem trinta e seis, mas como vê, a cabeça dele não passa dos sete anos, talvez oito, talvez nove, quem sabe. Mas o seu corpo tem necessidades! Necessidades de homem adulto. Do homem que o corpo é, e que o tornam, por insatisfeitas, instável, infeliz, agressivo, ferindo-se por vezes a ele mesmo. Noutras, a onde e diante de quem for se alivia. No mínimo, como imagina é constrangedor, humilhante. Na verdade é apenas muito triste e ajudá-lo, é um acto de caridade! Fá-lo-ia eu, mas não posso, é óbvio, sou mãe. E antes que me sugira uma profissional da arte, ele não aceita. Na sua cabeça de criança, são pessoas estranhas, fecha-se ou agride-as. Mas você, enfermeira Esperança, eu sei que que ele aceitava. E eu, pago-lhe três vezes mais, e...
       E ela aceitou!
       E profissionalmente uma, duas vezes por semana, como lhe dá o banho ou o obriga a comer quando não quer, ela deita-o, sobe para cima dele e sem ter, ou ter que fingir prazer, dá-lhe a ele o do alivio. Lava-se por baixo, como lava as mãos sempre que lhe cuida as feridas que as quedas fazem, ou a si mesmo faz e despede-se vendo no olhar da patroa a gratidão, regressando à casa que está a ser paga, ao filho já melhor e que vai ser um craque, e ao amado marido, que nada sabe.
     Mas Esperança, já não é feliz!
     Pelo menos como antes! No que lhe pesa na consciência, só ela sabe o quanto se deve à mentira, à traição, ou ao facto de usar o corpo dessa maneira e por ela, ser bem paga. Pois também o valor da verdade, da fidelidade e do respeito por si mesma, a onde nasce essa consciência que pesa, só ela o sabe.
     Como só saberá o peso da dita, o condutor de confiança daquele pequeno empresário, dono de uma pequena fabrica de botões para pronto a vestir. Patrão de quinze pessoas, juntas ali, todos os dias úteis, na luta do dia a dia, colegas e por poucos serem, amigos são todos também. Por isso mesmo, o patrão, pequeno empresário sim, mas de grande coração, -Patrão como aquele não há!,- (se diz por aqueles lados)face à crise no mercado em que trabalha, ele, e seus empregados, em contrariada desonestidade e para não despedir nenhum, e nenhum deixar com a sua família em dificuldades, envergonhando seu falecido pai, envergonhado ele também, dos impostos vem desviando dinheiro e numa conta em nome do condutor, empregado e homem de confiança, o deposita.
        Depositava,... ou depositou até há poucos dias, quando um acidente na fabrica, lhe levou o resto da vida que a idade já empurrava. E já com a morte puxando-lhe os pés, pegou na mão do seu homem de confiança, senão mesmo sócio simbólico, e pediu, -Não deixes que ninguém seja despedido, o dinheiro na tua conta, e de que só nós sabemos, isso o garante! Que ninguém passe fome, que ninguém perca a sua casa!
      Só ele, o condutor, pois à dele faltava semanas, para o banco a tomar por hipoteca sua posse. Os filhos, a doença da mulher, um par de erros e ia perder a casa. Casa que o dinheiro, na conta que até era sua, salvaria, deixando cair o emprego de três, ou quatro, ou mesmo cinco colegas e amigos. 
     Sentado na carrinha de transporte, sua ferramenta de trabalho, olha no final do dia os colegas a sair da fabrica e pergunta-se: em que ocasião pedira a Deus e à vida para ter na mãos o futuro de alguns deles. Sem resposta, nela já sente o peso do que não decidiu ainda.

     Talvez não tenha gostado deste texto. Talvez o incomode e ache de mau gosto. E talvez o veja assim por isso mesmo! Talvez porque depois de o ler, mas sozinho, no silêncio do seu mundo, vestindo na sua, a pele da enfermeira Esperança, se pergunte a si mesmo que peso sentiria, se o sentisse, e porquê? Ou preferindo, o que faria se marido fosse e o soubesse! E no condutor?! Salvaria a sua casa com um dinheiro que não sendo seu, fora desonestamente e pelo mais nobre dos motivos desviado, sacrificando o emprego e talvez certo, a casa dos colegas? 

    Não quero, não faria sentido, que me dissesse o que decidiria e muito menos que peso sentiria. Erros, falhas, todos os temos e fazemos, e mesmo alguns que o são hoje, e não o eram ontem, podem não o ser amanha, sendo-o aqui sem o ser ali, e digo-lhe até uma verdade aprendida e universal, "Reunidas as circunstancias, qualquer homem é capaz de qualquer coisa", agora, viver com o seu peso é o que nos difere uns dos outros, no tempo e no espaço.

     Pois esse, só você o conhece, só você o sente!
     
                     V. D.              
                   6/2019


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